Vândalos políticos e o rock do Congresso

01/09/2013 16:34

 

Um adjetivo está muito em voga hoje nos telejornais. Nas manifestações de rua, existem os que se expressam pacificamente e outros que aproveitam o movimento para depredar bens públicos e privados, saquear lojas, e geralmente escondem os rosto com máscaras ou com a camisa enrolada na cabeça. Estes últimos são definidos como vândalos. Eles estavam também no último jogo entre Vasco e Corínthians no estádio Mané Garrinha, em Brasília, segundo, ainda, a definição telejornalística. Mas, agora, não como aproveitadores de manifestações de rua, e sim como maus torcedores, provocando brigas nas arquibancadas, aterrorizando mulheres, idosos e crianças que se atrevem a ir ao campo para assistir a uma partida de futebol.

Na verdade, Vândalo era um povo, de origem germânica, que, principalmente no século V d.C., andou mal comportado, provocando invasões e saques, tendo entre suas vítimas o próprio Império Romano. Acontece que os Vândalos não foram os únicos na história a praticar esses atos de barbárie contra os povos ditos civilizados. Entretanto, por derivação, hoje só o seu nome é sinônimo de arruaceiros e saqueadores urbanos, uma espécie de “bode expiatório designativo”. Não seria diferente se disséssemos que, no meio de pessoas levantando faixas e cartazes pelas ruas, vikings atiraram pedras na fachada da Prefeitura ou que hunos saquearam uma loja de sapatos no centro da cidade.

Mas, com todas as reservas que se deve ter com os vândalos modernos, condenando de forma veemente a sua conduta, é preciso exercitar a compreensão com boa parte desses ditos baderneiros. Aliás, já que estamos falando de terminologias, o que significa ser “baderneiro”, “desordeiro” ou “saqueador”?  

Todo mundo sabe o que é ser analfabeto, mas muitos não enxergam a versão do “analfabeto político”, de Bertolt Brecht:

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

 Aproveitando o ensejo, como seria o vândalo político? Não estou querendo insinuar que quebrar a vidraça de uma concessionária de automóveis é um ato político. Mas, com certeza, posso dizer que é um sintoma de um fenômeno político. Falamos muito que o Brasil precisa de educação. Então, como exigir comportamento cívico de um bando de mala infiltrado numa multidão?   

Mais uma vez, não estou querendo legitimar a atuação agressiva de um grupo de pessoas que se aproveita dos movimentos de rua para extravasar sua barbárie. O que quero dizer é que os vândalos não podem ser excluídos da condição de cidadãos e serem vistos como criminosos ou inimigos, os joios separados do trigo. Assim como é preciso toda firmeza para com eles, também é preciso compreender que muitos podem, sim, estar reagindo à injustiça difusa praticada cotidianamente no Brasil.

Temos uma triste tendência a excluir pelas definições, numa forma maniqueísta de classificar ou discriminar pessoas e coisas: os bons de um lado; os maus, de outro. Os vândalos viraram uma categoria de gente que vem recebendo sempre, insidiosamente, maior destaque da mídia. Assim, aos poucos, vai incutindo a mensagem de que movimento de rua é sinônimo de desordem, ao contrário dos bons que são comportados, disciplinados.

Por favor, não me acusem de que “eu começo a achar normal que algum bossal atire bomba na embaixada”. O que eu quero dizer é que a indignação se manifesta de várias formas: ela pode azedar e virar ironia; ela pode ser lúcida e propor alternativas; e ela pode ser também abusada e descontrolada. Nestes casos, os excessos devem ser punidos, mas sem marginalizar ninguém, e sem tirar o foco das causas da indignação.

Respondendo a questão proposta anteriormente, ser baderneiro também é distorcer o processo democrático, muito comum em nossas instituições representativas. Ali também há desordens e saques milionários, permitindo que se reconheça a existência de um verdadeiro vandalismo na política.

Em matéria de indignação, eu não quero ser apenas lúcido, mas me permito ser também abusado, assim como a banda de rock Ultraje à Rigor, com sua música bastante adequada para o momento político que vivemos.

A seguir, o link de acesso ao “rock do Congresso”:   www.youtube.com/watch?v=aabjGLq2h5A