Onde as ruas não têm nome

01/04/2012 16:44

Reportagem da UOL fala da Ação Popular proposta por defensor público em Alagoas que contesta o "batismo" de obras públicas em Maceió com nomes de personalidades ainda vivas (e bem vivas!). O endereço de acesso é  noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2012/03/25/acao-contesta-homenagem-em-obras-publicas-de-nome-de-amigos-vivos-e-aliados-politicos-de-prefeito-de-maceio.htm

A reportagem me lembrou uma música do grupo irlandês U2, "Where The Streets Have No Name", lançada em um dos melhores álbums da banda (The Joshua Tree). Bem, eu sou suspeito, por ser fã incondicional da banda. Veja um trecho da música:

 

The city's a flood and our love turns to rust

(A cidade está uma inundação e nosso amor se enferrujou)

We're beaten and blown by the wind

(Nós fomos batidos e soprados pelo vento)

Trampled in dust

(Esmagados em poeira)

I'll show you a place

(Eu lhe mostrarei um lugar)

High on a desert plain

(No alto de uma planície deserta)

Where the streets have no name

(Onde as ruas não têm nome)

 

Ouça a música no link www.youtube.com/watch?v=egNKgKs1-qk

 

Aproveitando a metáfora da música, talvez não haja outro lugar no Brasil onde o amor ficou mais enferrujado do que nas nossas terras das Alagoas. Foi Montesquieu, em seu "Espírito das Leis", que associou alguns valores aos respectivos regimes políticos: o medo estaria associado aos regimes tirânicos, pois o déspota governa pelo medo que desperta; a honra é típica dos regimes monárquicos, onde o poder está condicionado às honrarias dos reis e nobres; por fim, a virtude seria o valor das democracias, mas uma virtude política, e não exatamente altruísta.
A virtude em Montesquieu tem um sentido político. Segundo ele, “O amor à pátria leva à bondade dos costumes, e a bondade dos costumes leva ao amor à pátria. Quanto menos conseguimos satisfazer nossas paixões particulares, mais nos entregamos às gerais.”
Alagoas é uma terra inundada, alagada, e não só na coincidência de seu nome, que representa as lagoas que banham a região. Sua capital, Maceió, deve seu nome ao antigo Engenho Massayó, expressão utilizada pelos índios que significa algo como “o que tapa o alagadiço”. Mas na alegoria, o que conota é uma inundação de apatia e mediocridade, que leva ao surgimento de representantes inescrupulosos e aproveitadores. Não que Alagoas apenas seja habitada por essa espécie parasitária, mas é que aqueles que possuem a virtude de Montesquieu estão cada vez mais afogados nesse charco de corrupção e miséria.
Uma terra que deu ao País e ao mundo personalidades como o escritor Graciliano Ramos, o dicionarista Aurélio Buarque de Holanda, o músico Djavan, o jurista Pontes de Miranda, dentre tantos outros, só pode ter na fraqueza e na timidez dos seus bons cidadãos a resposta para todo esse triste cenário. Bondade sobrepujada pela audácia dos tradicionais personagens de nossa história social e política.
Na questão 932 de “o Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, há a referência a essa realidade:

Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?
- Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.

E por falar nos bons de nossa terra e no problema sobre os nomes das ruas de nossa cidade, vale a pena conferir a música Ruas de Maceió, de Roberto Becker, na versão de Eliezer Setton, no link abaixo:

letras.terra.com.br/eliezer-setton/1924914/