Em tempos de OAB, o milagre da multiplicação

17/11/2012 10:53

 

Texto de Lucas Farias*

(Enviado em 16.11.2012)

Diante da fartura dos banquetes pantagruélicos promovidos por algumas chapas candidatas à OAB, é possível supor que, caso não logrem êxito após o término da disputa, tornar-se-ão belas empresas de buffet.

Interessante observar como algumas chapas concebem o certame eleitoral da Ordem na lógica duma cadeia alimentar: os famintos por poder, no topo, caçam os famintos por jantares e destilados (ou marmitas e caninhas, conforme o paladar do freguês), sediados na base da pirâmide.

A bem da verdade, nada se poderia objetar contra uma bela refeição, principalmente num estado de famélicos e esfomeados, não é?

Importante mesmo talvez seja entender quem paga a conta de tanta fartura: o prato do glutão, a dose do cachaceiro, o couver do artista, o flanelinha do estacionamento, os dez porcento e a gorjeta do garçom. Ou alguém aqui de fato crê em ceia natalina antecipada, boca-livre, zeroitocentos?

Que os ingênuos de boa-fé me indultem por tamanha incredulidade, mas penso já ter ouvido uma história similar ocorrida tempos atrás, uma tragédia, hoje certamente repetida como farsa.

Não nasci há dez mil anos, tal qual Raul, mas, se bem me recordo duma passagem esparsa da escalafobética divina comédia humana de Dante e Belchior, parece-me que um sujeito nobre e virtuoso, lá nas primeiras décadas do calendário ocidental, resolveu multiplicar pães e peixes, além de transformar água em vinho, para saciar os sedentos e alimentar os famintos.

É dito também que, na expressão das gírias hodiernas, foi uma festa bacana (ainda se fala isso?), certamente promovida com as melhores e mais humanitárias das intenções: aplacar a fome e a sede de um povo depauperado.

Hoje, também, uns tantos querem abrandar a avidez da gula de apetites inconfessáveis, talvez com propósitos outros, escusos e que tais.

No caso presente, não há o milagre da multiplicação, nem o da transmutação. Intere$$e$ econômico$ podero$o$ pagam a conta, compram o peixe e enchem as taças de vinho.

Tais fariseus miram, por óbvio, nos três órgãos vitais de qualquer um: fígado, estômago e, claro, bolso.

Mas quem paga o pescado, se o mar não está para peixe?

Calma, não fiquem bravos com a curiosidade inquietante da pergunta.

Essa história pode não ter um bom... enfim, deixa pra lá.

* É graduando em Direito pela UFAL, assessor jurídico do Tribunal de Justiça de Alagoas e colaborador do site Espírito Político.

 

Grande Lucas, obrigado pelo texto! Não se preocupe, os "ingênuos de boa-fé" não precisam te perdoar ou indultar, pois o Deus em que eles acreditam nem sequer se ofende.

Marcelo Jobim