Coligação Piriri-Pororó Patati-Patatá

04/10/2012 17:40

Não sei vocês, mas eu vou sentir saudades do horário político. É uma verdadeira terapia assistir àqueles candidatos a vereador tentando se comunicar, fazendo um esforço hercúleo para dizer algo convincente, ou mesmo coerente, que possa ao menos fazer jus ao registro da candidatura. O tempo, mesmo inimigo, é precioso; precioso e inimigo ao mesmo tempo. Leia essa última oração de trás para frente e veja que dá quase no mesmo.

Mas, foi nisso em que as eleições municipais no Brasil se transformaram. Vetores opostos que se neutralizam mutuamente. E não saímos do canto. Como na música da banda irlandesa U2, ficamos “stuck in a moment and we can´t get out of it” (presos em um momento e não conseguimos sair daí). E a legislação brasileira segue a harmonia do pra quê-pra nada, no ritmo do “amanhã, eu vou lá hoje”.

Existem 30, sim, trinta partidos políticos no Brasil. Com exceção do DEM, todos os demais começam com a letra P, de partido. Vocês conhecem todos os partidos? E seus números? Eu poderia desafiar vocês com uma questão de múltipla escolha, mais ou menos assim:

Assinale abaixo o item que corresponde ao nome dos partidos.

1) DEM:

a) Dementes

b) Democratas

c) Demônios

2) PEN:

a) Partido Ecológico Nacional

b) Pense em mim, chore por mim...

c) Caneta, em inglês

3) PV:

a) Pata Vina

b) Pra Ver, não Pra Comer

c) Partido Verde

E o pior: de qual coligação faz parte qual partido? Isso é importante, viu. Por isso, a legislação impõe que na propaganda política no rádio, depois que o candidato apresenta suas propostas, seus axés e regabofes, surge a voz de um extraterrestre dizendo: “Coligação piriri-pororó patati patatá”. Claro que ninguém entende nada, mas entender pra quê? Que interessa que a coligação reúna os partidos dos dementes, da patavina ou da PQP?  

Eu costumo dizer que a ironia é a indignação que azedou. Não estou aqui querendo fazer apologia ao voto nulo, até porque os candidatos do Partido Nulo ganham quase sempre todas as eleições, independentemente de campanha ou do hilário político gratuito. Mas o que se percebe é que, no final, os candidatos viraram números. Para vereador, vote no 171 e todos os seus problemas se acabaram.

Não existem homens e mulheres com ideias. O que existe são ridículos personagens numerados e suas idiossincrasias: é o Zezinho da Farmácia ou o Joãozinho da Oficina. E isso é o resultado da cópia do presidencialismo americano que consolidou no Brasil uma política sem ideologia, dominada por títeres carismáticos ou palhaços oportunistas.

Curiosamente, a “desideologização” da política, caracterizada pela disputa política vinculada à pessoa do candidato, chegou ao seu extremo oposto. O excesso de personalização virou, pura e simplesmente, a despersonalização. Se antes tínhamos candidatos sem ideias, agora temos candidatos sem ideia e sem personalidade. E o número indicando os partidos é exatamente a representação do extremo da despersonalização daqueles que se apresentam como aspirantes a cargo eletivo.

Pois bem. Que seja precioso ou inimigo o tempo do horário político, tanto para o candidato, quanto para o enfadado eleitor telespectador, ele serve, no fim das contas, para promover o alívio das tensões do dia, depois da dura jornada de trabalho. Pelo menos alguém tem que trabalhar nesse cortiço.

Taí uma figura que deveria ser institucionalizada: o candidato a vereador. O seu papel nesse teatro é extremamente relevante para a sociedade, desde que não ganhe as eleições, claro.

Nestas eleições, quando for votar, você até pode pensar que está indo ao circo, mas não faça o papel de quem está no picadeiro.